manhã

nem de sóis
ou
ingestão de acenos

apenas um vestido
de serpente
e a cara
assombrada

mimésis de dor
.Dói.
tudo tanto tão longe

inconstância térmica
______febril


O meu sonho era escrever pela tarde fora, livre de peias, com a prontidão
de um xisto lavado. Foi depois de uma doença, ligeira mas perturbadora,
de que voltara ao mundo com uma nova violência
nas ideias. Antes de mais, a decisão de escrever,
de estar a escrever, e a noção de que era necessário
o ser-se separado da escrita. De que era preferível estar só; não apenas
longe das pessoas, mas habitar o ser-só,
explorá-lo pelo lado de dentro, por mais repetitivo ou baço,
com a seriedade e a dedicação de uma criança cujo mundo
se abre todo de dentro de um caixote velho de frigorífico.

Martin Earl, “Obscurity” (Trad. MIR)
Gostava de te mostrar
o meu labiríntico arvoredo ou
a sinfonia dos meus canteiros;
levar-te ligeiro pela mão
numa manhã deslumbrada de sol
— vês? — aqui, a gravidade das camélias
ali, os pirilampos, infinitos.
Haveria poços e covis de lobos
(portas inteiras de escuridão sonora)
mas também tulipas e girassóis
e rios, entornados em cascata,
e as folhas todas de doce vento.
Gostava de te mostrar
o meu jardim de dentro
(pétalas e pássaros, odoríferos, habitando
a nudez cava dos troncos)
gostava — mas uivam os lobos —
— tu assustas-te