São estranhos, os lugares. Mais ainda, se por nós criados. Este lugar foi talhado a partir de uma solidão aguda, um pouco a medo, saltitando entre a penumbra da margem e a luz refractada do rio.
Talvez lhe tenha calculado mal a geografia.
Durante algum tempo, foi um espaço de ampla melodia, onde me fui espraiando em palavras, imagens e sons.
Sempre lhe apreciei o silêncio, regularmente interrompido por vozes outras de impecável doçura e alento.
Mas tão de lado fui pondo este espaço, que a certa altura ele se foi fechando sobre si mesmo, devagarinho, as pétalas dobrando-se para dentro com o frio da noite.
E todo este negrume. É certo que emoldura muito bem as imagens, mas neste momento vejo-o apenas como um espelho unicamente capaz de reflectir a minha face. Dispenso bem ver-me com tanta intensidade.
E todo este negrume. É certo que emoldura muito bem as imagens, mas neste momento vejo-o apenas como um espelho unicamente capaz de reflectir a minha face. Dispenso bem ver-me com tanta intensidade.
Preciso de respirar numa outra cor, uma vez que os meus dedos já não se vestem tanto de preto.
Fomos crescendo, eu e este lugar, em direcções diferentes. Este espaço seguirá o seu caminho para lado nenhum. Eu passo a estar aqui.
Fotograma: Orphée (1950), Jean Cocteau