atravesso a corte o país transverso
através de pontes e raposas breves
enferrujadas pelas lixeiras
a céu aberto, tombando chuva:
18º C: um mar espesso de nevoeiro
onde adivinho cobras cegas, folhas
negras, pontas soltas de oliveiras
a arder a arder num sopro atroz:
pinheiros bravos: a resina
lava espessa flamejante:
13ºC: três estações – a primavera,
o verão, a primavera – passam a salto
as fronteiras dos olhos frescos
que trago nesta manhã silícica
e atravesso
a corte a longitude desta nesga
num carro cheio, de cebolas e rosas brancas
o cheiro de ambas lembrança afónica
por chorar, o cheiro de ambas bilhete
gasto a dobrar – em quatro – e a guardar:
um verso: inverso de outra estação que
supero – talvez em vão – nas cornucópias
sincopadas das raposas, dos pinheiros,
das cobras e das cebolas que vão ardendo
(e ardem ardem) e que vou chorando
por saber que nada disto cabe aqui
(não pode, não cabe) pois este aqui
quer-se liso e retumbante
como um beijo de campanário
e não rugoso ou afrontado
pelas montanhas que atravesso
de modo exangue
em corte transverso: 18º C:
é um fino início de primavera.
guardo as cebolas e as rosas brancas
no bolso cavo do inverno mudo.
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