Havia pedras, brancas e pretas, que saltitavam como teclas de um piano debaixo dos seus pés. As flores do seu vestido ondulavam ao sabor daquele som, esquecidas do vento, rendidas à música. Os dois braços no ar (finos ramos a espreitar por entre um conto de fadas) prolongavam-se até à batuta da ponta dos dedos, delineando uma varinha de condão cujo vértice inundava o jardim de gargalhadas e sinetas.
Reclinava a cabeça e cantava muito alto, o fio da voz a cair-lhe da boca cheia de algodão doce, entrelaçando-se suavemente com a luz baixa do pôr-do-sol. O cabelo desenhava-lhe sucessivas colcheias no marfim da pequena testa, marcando o ritmo solto daquela melodia entrecortada por saltos e risadas.
Num breve instante, todo o Verão se concentrou ali, no seu vestido florido em dança encantada, na sua doce voz de menina-borboleta, naquele mágico concerto sem orquestra. Senti de novo o jardim mais verde, e todas as flores recuperaram o seu cheiro.

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