Saltou de dentro de um grito, atravessando heroicamente a barreira metálica do "passas-não passas". Numa cacofonia de braços e muletas, alçou a perna engessada até à porta do metro e embarcou, uno e certeiro, na sua viagem marginal.
Fora do metro, um homem de blusão negro exigia ordem, pedia ao homem da perna branca que saísse e regressasse ao lado correcto, onde só papéis e cartões podem levantar cancelas. Foi então que as palavras começaram a ferver em lume forte, atiradas às janelas como bolas de chumbo quente.
“Wharya’ want?! FUCK YOU! Fuck you and have a nice day!”
As portas fecharam-se, o metro seguiu a sua marcha sibilante pelas entranhas da cidade, e o homem sentou-se no único lugar vago. Do bolso roto, tirou uma carcaça de pão seco que foi esboroando com os dedos sujos. A cabeça erguida içava-lhe o olhar acima de todos os narizes torcidos pela sua rude ilegalidade. Sentado naquele banco laranja podre, lembrava um guerreiro que, após longa invasão triunfal, ocupa o seu lugar à mesa dos justos.
P.S.: Aconselha-se
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