Escrevesse eu um poema
Sobre o teu corpo feito página.
Seria a tua pele ameno papel acetinado
Sobre a minha pele, seda reposta em anca.
Na pureza da folha, caracteres privados
Em traços leves dentro, fora das margens.
Serias tu termo suave a roçar-me nos dedos,
Seria eu palavra roxa a espreita-te dos lábios.
Fosses tu o ímpeto certo,
Verso contado em heróico acento.
Seria eu livro, vale fundo em branco,
Serias tu tinta negra a brotar das fontes.
Fosse tua face triângulo perfeito
A sorver o topo das montanhas.
Fosse minha mão abrigo fechado
De pássaro em agitado repouso.
Hipnótico pêndulo,
Metáfora em chamas,
Anáfora a pulsar.
Seriam lírios a florir,
Pinheiros a sangrar —
Todo um dicionário em uníssono suspiro.
Seria meu corpo copo cheio em tuas mãos.
(Junho de 2009)
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