Talvez ontem me tenha esquecido de morrer
mas, nos dias em que tenho a morte certa
(bafienta, entre o pescoço e o ombro esquerdo)
engulo de um só golpe a sua foice
e navego até ao fundo do chão agreste
numa sadia investigação no seio do mundo
Pendurada na falésia invertida do silêncio
faço do ventre e das mãos húmus da terra
vou fermentando a promessa dos vulcões
na minha carne calada entre as sementes
das borboletas desossadas, de asas podres
enubladas pela bebedeira da criação
No dia em que a terra se abrir de novo
ergo da morte interrompendo a negritude
e, enquanto elevo o tornado à luz salgada
verei pelas mãos e pelo céu-da-boca
a eterna roda das árvores em fogo
firmemente atravessadas pela seta da entropia
Foto: Curtis Martin
2 comentários:
Muito bom pá. Entre várias imagens muito interessantes (vinculadas ao plano do corpo e do orgânico, que me dão sempre bastante prazer) posso dizer que a que me deixou mais perplexo e curioso foi: "Pendurada na falésia invertida do silêncio".
Espero que morras mais vezes a ver se nos brindas com mais boas ideias :)
Agora sim, estou corada, e não é do vinho... ;)
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