O mais belo poema

escreve-se à noite
em contra-luz
no perfil morno do espelho turvo
enevoado de sombras roçando
as mãos — de manso

O mais belo poema ri-se
debaixo da cama
dança destemido entre os fantasmas
na ponta dos dedos ensandecidos
pelas palavras em explosão muda

O mais belo poema nasce
da costela arrancada à insónia
e permanece
— suspenso —
entre o lençol e a tua pele
entre o choro da criança
e o gato

a respiração

do chão
das paredes