Alçapão (sem porta)

São tantas as vezes que a desarrumação do sótão me cai em cima (como caía o céu sobre a cabeça dos gauleses), que eventualmente me renderei à evidência caótica das lembranças. Avessa à sisífica catalogação de gentes e de cheiros, passarei a ser velha louca desterrada entre livros rotos e jornais adiados, o mijo dos ratos a adoecer-me o ar de leptospirose e eu doente, sentada numa poltrona rarefeita de molas e de hortênsias, calada a desfiar um rosário de cacos.
Vivo no ontem, sim, pois do hoje só recebo uma pouca ilusão de avanço, em tudo insuficiente à minha expansão miocárdica.

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