Lá fora caem trombetas de água irisada pelo vento;
talvez o fogo venha a seguir, depois o fumo e o enxofre;
não sei ainda, mas a terra pareceu tremer
entretanto, talvez de frio ou solidão.

Lá fora o mundo avança e acaba
e tu aqui sentada, à cerejeira desta mesa
que sob um sol murcho vai murchando
murchando —
os olhos um arado sobre a noite.

Crias por isso uma fórmula de sentido:
subtrais à altura das ondas a velocidade do vento,
multiplicas as intempéries pela nidificação interrompida,
mas sobra-te sempre a viuvez das casas em colapso
gemendo água pelos alvéolos das paredes.

Esperas por isso que o mar devolva
a mensagem vidrada que lhe ofereceste
naquele dia luzidio de tranças pretas.

Talvez venhas a ser Eva sem Adão
se a espuma do mar te lembrar
da nudez inocente caída sobre as águas,
se regressares à ausência dos nomes
sussurrados antes pela carícia dos elementos:
ruach elohim

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