Receita para fim de tarde
há-de haver neste vinagre
a medida certa de outra aurora
um fontanário rubro a brotar entre
três chávenas quebradas
numa cozinha ausente
e no telhado, uma laje inclinada
como o caderno da escola
que o trabalho de casa fechou
tape a boca e espirre, menina
respire
faça do calor uma ferramenta
aguçada para cozer bolos e
fermentar crianças
para esquecer
o vinagre que lhe foge
da boca e lhe tinge
o vestido de azul-cinzel, azul
como o quadrado da entrada
(esse torto, aí ao fundo)
o que lhe devora a mão direita
quando adormece e se lembra
das intempéries, todas elas
roídas inteiras pelo chão da casa
respire
faça calor com as suas mãos
e retire
do vinagre a aurora e a cozinha
fervente
respire
do chão o calor, da mão um machado
febril rachando portas no ar
seco deste tempo baço
e febril
respire
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