Podia lembrar-te
e sangrar um poema
uma ou outra epopeia —
talvez um lírio roxo
Podia, mas prefiro
a minha planície desviada
do teu relevo fantomático
onde vertigens fricativas
se codificam em silêncio
(Só por este poema, vale a pena abraçar uma idade tão plural e redondinha...)
IMPORTANT
Book reading is a solitary and sedentary pursuit, and those who do are cautioned that a book should be used as an integral part of a well-rounded life, including a daily regimen of rigorous physical exercise, rewarding personal relationships, and a sensible low-fat diet. A book should not be used as a substitute or an excuse.
Viajávamos juntos, os quatro, num carro que connosco encontrava o equilíbrio em cada curva. A mão fora da janela, leve e desprendida, media a velocidade das folhas secas na estrada, bebendo avidamente o sol fértil da manhã. O ar que varria os dedos era um ar saturado de possibilidades, e de uma certeza inabalável de que iria ser sempre assim: nós os quatro dentro de um carro, a minha mão a querer voar, os cantos da boca selados com algodão doce, as minhas tranças de menina sempre certas das mãos de mãe.
Os domingos eram viagens breves e circulares, mas filmadas com um filtro de eternidade que as tornava infinitas. As cores, tão agudas. As vozes, suave seda. As nuvens, unicórnios e dragões.
Parámos um dia na berma da estrada. Mudei-me para o banco da frente, e a viagem passou a ser minha. Deixou de haver algodão doce, nuvens aladas, e a certeza das mãos de mãe.
Photo: Henryk Kaiser